dezembro 07, 2009

Textos de apoio, Sistemas Construtivos, 2009-10


A lógica da construção

Por uma questão de coordenação quer vertical quer horizontal do curso, foi definida uma estratégia para a condução das disciplinas de construção e sistemas construtivos.


Não obstante esta orientação geral, foi por mim traçado um programa desta disciplina (Sistemas Construtivos I e II, 2º ano do curso superior de arquitectura), enquadrado nas orientações gerais, mas adaptado e melhor definido perante as minhas convicções.

De uma forma geral, os sistemas construtivos, entendo-os como divididos em três partes ou grupos de abordagem:


1- A evolução, a historia e as relações dos sistemas com outros factores condicionantes que marcaram a construção em si, a matéria-prima, a ferramenta, a tradição e transmissão de conhecimentos, técnicas de execução e por fim o resultado formal e conceptual da arquitectura/construção. Estes conhecimentos levam a um melhor entendimento dos processos e lógica actual dos comportamentos. Uma abobadilha cerâmica numa laje aligeirada sobre vigotas pré-esforçadas, a camada de compressão, o equilíbrio das forças e a decomposição vectorial desta distribuição de esforços, não é mais do que uma leitura evoluída de um arco ou abobadilha romana.


A evolução da pedra de fecho e da métrica industrializada das ombreiras numa sociedade de século 19 associada ao crescimento populacional ou ao desenvolver das cidades amuralhadas segundo os eixos que partem da “porta nova” ou “porta carral”, não pode ser lida por mera razão construtiva ou de resistência do material.


2- Uma actual visão sobre os processos mais utilizados na actualidade num contexto que importe aos nossos futuros arquitectos, como instrumento de trabalho. A percepção de uma série de factores de influência; o clima; o local; a identidade cultural entre outros, vem dar corpo a uma forma de entendimento do processo construtivo ao dispor do arquitecto na actualidade, com as ferramentas técnicas e conhecimentos de que dispomos. O conhecimento de varias alternativas no processo construtivo, do sistema porticado ao articulado, de uma parede de alvenaria ou uma cortina ventilada, com as implicações ao nível térmico ou acústico. Um conhecimento que por si exige do arquitecto no seu papel de coordenador das varias especialidades, um conhecimento se menos profundo cada vez mais alargado nas matérias varias. AVAC, Acústica, Térmica, resistência de materiais, subsistemas sejam aspiração, domótica, ou outras especialidades cada vez mais influenciam, determinam mesmo a forma, a dimensão, a escala, o pormenor do desenho da arquitectura. Assim, este conhecimento alargado, importa num conhecimento pelo menos num terceiro e quarto semestre alargado como linguagem de comunicação entre os vários intervenientes das várias especialidades.


3- A constante evolução dos conhecimentos, das ferramentas, dos materiais das técnicas, na normalização ou outros aspectos que vistos (num todo) importam reter, numa perspectiva de que só este constante cruzar de informação e ao mesmo tempo de evolução rápida do citado pode levar a um desempenho actualizado dos nossos futuros arquitectos. A disponibilidade e a vontade de um sempre crescendo de conhecimentos, a curiosidade em pelo menos conhecer as novas informação que cada vez nos chegam mais rápida e mais complexamente, é uma arma senão a única forma de encarar esta profissão. Por isso, os conhecimentos alargados do citado nos pontos anteriores permitem, pelo entendimento da lógica, do comportamento, da metodologia e formas de executar, um mais fácil entendimento e apreensão destes novos conhecimentos.

Assim, se por um lado existe uma tendência apara apresentar de uma forma muito resumida e às vezes até, irresponsavelmente entender que o papel do professor se limita á transferência dos conhecimentos generalizados, sendo este complementado por uma pesquisa pessoal e individual, é facilmente contrariada pela necessidade urgente de elevar os conhecimentos dos nossos recém licenciados. Restando duas alternativas, ou superamos as lacunas dos conhecimentos através de uma rigorosa avaliação, ou retomamos a lógica do anterior modelo de ensino. Como não vejo este regresso ou retorno possível, resta a limitação e cada vez mais balização das capacidades e legitimidades de desempenho profissional, papel que a ordem e meu ver não estar a tomar nem chamar a si.


(…)


Sem querer receitas aqui fica um registo em forma de primeiro tratado…


A percepção do:
Material; Da ferramenta; Do processo e do Resultado,


Acrescida de:
Um método; Uma ordem e sequência; Um cumprimento das regras e normalizações estabelecidas,


Levam sem dúvida a um melhor desempenho profissional.


(…)


Por fim, a importante mas não principal razão, diminuição da carga horária e ou compartimentação das matérias, levou a meu ver a um conhecimento menos aprofundado e menos articulado e por isso menos consciente. Por outro lado menor no seu conteúdo e nas matérias mínimas e aceitáveis para o exercício da profissão.


As componentes são claramente e facilmente definidas, mas ao mesmo tempo indispensáveis no exercício da nossa profissão, bem como indispensável é a sua articulação:


1- A teorização e conhecimento histórico.


2- A aplicação prática dos conhecimentos:

Na primeira, o conhecimento num sentido de evolução das práticas e dos pensamentos levam a um melhor entendimento da prática projectual e consequentemente da nossa capacidade em equacionar, criticar, reflectir. Por isso capazes de, entendendo, e cautelosamente introduzir a experiencia do passado, aplicar um conhecimento mais maduro e consciente na prática projectual.


A teoria, seja ela num sentido lato, a filosofia, a antropologia e outras ias” que aparentemente nada tem a ver com o espaço ou com a representação do mesmo, exigem uma capacidade de entendimento, de rodem de raciocínio, de método, que obviamente vão se traduzir num melhor desempenho do arquitecto.


A geometria descritiva (matéria que sempre chamo ao discurso), é um mero sistema de representação do objecto. Mas, a verdade é que pratica do ensino leva a concluir uma diminuição assustadora na capacidade do aluno representar bi e tridimensionalmente o espaço. Mas, a verdade é que o aluno, hoje, sendo capaz de representar e até visualizar um objecto concreto, não é capaz de ler um método, reconhecer um enunciado, simples e descritivo do mesmo objecto.


Estas disciplinas, se não levadas a sério e impostas como fundamentais ao desenvolvimento espacial do aluno, vão inevitavelmente traduzir-se no desempenho do arquitecto como mero representador, ilustrador e copiador de desenhos já transformados bi-dimensionalmente.


Esta é a realidade actual e generalizada.


Se pegarmos na critica da e na arquitectura, como expressão como materialização de um pensamento, ilustrada, argumentada, directamente vivida por objectos que sejam fáceis de reconhecer como exemplos do discurso, vemos que hoje uma simples memoria descritiva, para não incluir aqui a componente justificativa, levam á conclusão de uma total apatia por parte de quem interessado.


Por outro lado, a segunda respeita á falta de aplicação directa dos conhecimentos, na obra, no local, ficando-se pela mera representação gráfica ou projectual, leva a uma fraca noção e até domínio da escala, do processo, do método de excussão.


Hoje, no ensino actual, defendendo estágios intermédios em locais de obra e construção, são uma necessidade premente.


O aluno, não compreende o sistema, não domina os sistemas e subsistemas. Isso não seria importante se apenas faltasse a relação entre o projecto e representação da execução, mas a verdade é que essa falta de aplicação, de visualização” in loco”, só viria a reforçar a lógica do tratado de Bolonha tão falado.


Um pormenor, á escala, bem desenhado, que facilmente se retira de uma qualquer informação digital, não substitui uma ida á obra ou estaleiro, uma carpintaria, ou uma obra.


(…)
Excertos retirados de um artigo sobre o ensino no panorama português actual
“O ensino da arquitectura no século XXI e o tratado de Bolonha”
Nuno Oliveira, arquitecto

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