Caros alunos (penso serem):
Publicarei todos os comentários que enviarem mas em relação ao por mim também publicado, desde que identificados ou então objectivos, sejam eles críticos pela positiva ou negativa e apenas somente às disciplinas que lecciono.
A possível falta de articulação ou até relação horizontal entre as disciplinas no mesmo curso, poderá ser uma questão ou de programa, e neste caso, é saudável uma apreciação, ou então pela própria condução de cada disciplina pelo seu docente, nos seus programas e conteúdos.
Penso até mais interessante debater a sequência dos conteúdos no sentido vertical da apreensão dos conhecimentos.
Importa por isso ler atentamente os objectivos e a minha própria interpretação da disciplina consagrada no programa da mesma, ou até nos textos por mim cedidos. Certamente encontrará aí todas as respostas á sua questão.
Falar sobre sistemas construtivos, não é necessariamente falar sobre história da arquitectura nem menos de história da construção.
De uma forma generalizada, e consagrada no meu programa, (claro que estes temas não só se tocam e se inter-relacionam), mas não são apresentados como uma sequência ou uma descrição de modelos ou de estilos. A mesma relação que podemos encontrar entre a história em si, suas raízes e influencias ou consequências, a meu ver, não pode nunca ser lida isolada de uma serie de acontecimentos paralelos ou condicionantes sociais, religiosas, etc.
A história ensina-nos que uma guerra, a morte de uma só personalidade, ou uma invenção, leva a uma profunda alteração quer dos acontecimentos, quer da visão que temos sobre a própria história.
Assim e neste sentido, a construção segue o mesmo destino. Mais particularmente (e vejam que eu insisto sempre nisto), o ensino de … pois ensinar algo tem necessariamente uma componente pedagógica que leva muitas vezes a “mentir”, ou seja omitir e ignorar alguns dados também importantes, mas desnecessários para atingir um objectivo, num contexto do curso, do ano, ou até do assunto em questão na aula.
Mas sistemas construtivos num segundo ano lectivo, com a falta de conhecimentos ou de bases, tem o seu quê de carácter próprio, as vezes até algo controverso para alunos com um pouco mais de conhecimento.
Por outro lado, subscrevendo as directivas do Próprio director de departamento, está errado seguirmos com a falta de tempo que temos e período de transmissão de conhecimentos, uma sequência da própria história com toda a profundidade.
Levar-nos-ia até á discussão sobre o tratado de Bolonha cujo tenho já uma opinião bem formada.
Da antiguidade histórica á época moderna, passando por todos os períodos possíveis de identificar. È importante saber um pouco sobre os sistemas construtivos usados em vários períodos da história pois eles mesmos são consequentes na forma, na expressão arquitectónica, ou até por que o entendimento destes sistemas, enquanto processo, vem dar uma visão e materialização sobre um qualquer tema.
Assim, numa aula, vaguear entre a revolução industrial e a construção romana, se o objectivo é o entendimento das diferenças entre o arco construído em “pedra a pedra”, ou com outro material uma ponte sobre um rio num sistema articulado de peças rebitadas de ferro, leva-nos a:
-Conhecimento do sistema romano - a descoberta ou redescoberta do arco com peças de pequena dimensão. Por consequência, a abobada de canhão, por consequência o arco de cruzeria, por consequência, o arco botante, por consequência….Todo um sistema, “sistematicamente” evoluído dos sistemas usados na arquitectura que daí advêm.
-Por outro lado o entendimento da matéria-prima, do processo de execução, das ferramentas, dos transportes, da duração da obra, mostra-nos a particularidade de um determinado momento e civilização.
- O entendimento do material, do sistema, da execução, da resistência, dos comportamentos físicos da construção em ferro, leva-nos uma vez mais a entender uma serie de factores que em paralelo marcaram uma época, para alem do próprio sistema construtivo.
- Uma tijoleira, como lhe chamam, (prefiro a abobadilha), por que me relaciona directamente com a abobada, e me remete para a abobada já anteriormente usada, e me relega para o próprio arco romano em peças tão pequenas que á compressão seguravam, tectos e mosteiros!!.
Assim e concluindo, uma abobadilha num sistema aligeirado de vigotas pré-esforçadas, se entendido o seu papel, a sua componente, o seu lugar num sistema de forças, num sistemas composto por elementos ora cerâmicos, ora armados, ora porticados ou abobadados, congrega, e contem toda a lógica construtiva de vários sistemas que a própria historia veio ensinar.
A interpretação, a compreensão destes pequenos sistemas, e não o simples aceitar o sistema como uma disciplina que de nada tem a ver com o papel do arquitecto é um erro crasso e uma consequência para o desempenho real da nossa profissão.
Essa será outra questão para outra dissertação sobre o que entendo ser não só o panorama nacional da arquitectura em Portugal e mais concretamente sobre o ensino que se vem praticando.
Uma casa, é um abrigo, uma ponte um elemento físico de transposição para outra margem, um edifício qualquer tem de cumprir a sua função. A cultura vernacular esquecida nos ensinamentos da arquitectura pode trazer de novo o ensinamento sobre as questões fundamentais sobre o papel do arquitecto na sociedade.
A casa tem de funcionar, ser habitável, ser acolhedora, as peças que a compõe estarem no “sítio”. A ponte será de betão ou de ferro ou porque não em peças de plástico que bóiam num qualquer rio… mas terá sempre a sua função. O sistema construtivo, seja em vidro, ferro ou plástico, pode ser ele mesmo o conceito de estética do próximo futuro, mas não poderá nunca atraiçoar o seu propósito e função.
Incendio no estado das Antas
Há 13 anos
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